Artigo

 

Sergipe na Pernambucânia 

por Vladimir Souza Carvalho

 

 

                O título é sugestivo: PERNAMBUCÂNIA – O QUE HÁ NOS NOMES DAS NOSSAS CIDADES, de Homero Fonseca, publicação da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, Cepe Editora, Recife, 2008, 248 pp, ao trazer um estudo, sucinto, sobre o nome de todos os municípios pernambucanos, antecedido de rápidas considerações históricas, de acordo com a ordem alfabética. É a parte principal do livro. Na primeira parte, um estudo sobre o nome dos municípios brasileiros, em sete capítulos.

            Um detalhe deve ser destacado: não se cuida, em termos de Pernambuco, do primeiro livro sobre a matéria. Antes deste, segundo o autor enumera nas fontes de consulta, há outros, anteriores, como TOPONYMIA PERNAMBUCANA, de Mário Melo, 1931, outro, de Daury da Silveira, TOPONÍMIA PERNAMBUCANA, 1982.

            A segunda parte não nos diz respeito, a nós, sergipanos, pela completa falta de vínculo com qualquer município pernambucano. A leitura se faz pela natural curiosidade e pela precisão do estilo do autor.

Mas, na primeira, aqui e ali, um município sergipano é citado dentro da toponímia municipal brasileira. Neste terreno, Moita Bonita e Pedrinhas são os dois primeiros enumerados, ao lado de outros, em nível de Brasil, com uma explicação: “O gosto brasileiro pela poesia de índole lírica está presente em numerosas designações notoriamente evocativas, (...)“ (p. 33). Depois, como município que recebe o nome indígena, está Itaporanga e Itabaiana. Faltaram outros, como Própria, por exemplo.

 Em seguida, em meio às cidades-terra, está Areia Branca. Entre as cidades-bicho, estão Canindé (variedade de arara e papagaio), Pacatuba (manada de pacas) e Lagarto. Entre os municípios que adotam nome de pessoas ilustres, situam-se Tobias Barreto e Frei Paulo. Evidentemente que ainda temos Gracho Cardoso, General Maynard e Simão Dias, que escaparam da citação. Não fez referência, também, a Cristinapolis, homenagem a Imperatriz Teresa Cristina, esposa de D. Pedro II, ou seja, Cidade de Cristina, da mesma forma que Teresina, capital do Piauí, também é homenagem a dita imperatriz, derivando Teresa para Teresina.

O livro ressalta a inocorrência em Sergipe de qualquer município com o nome de mulher, embora, no passado, não tão distante, tivéssemos tido três, transitoriamente, em especial: Anápolis [cidade de Ana, ou seja, de Ana Francisca de Menezes], que voltou a ser Simão Dias, Darcilena (homenagem a Darci Vargas e a Helena Maynard, e cá para nós, de mui mau gosto), que terminou sendo Cedro de São João, e Juruama, que retornou a ser Santo Amaro das Brotas. No caso específico de Anápolis e Juruama, a polêmica foi pesada, dividindo as duas comunidades e gerando muitas páginas na história dos dois municípios. A propósito, sobre Juruama, há referência em RETRATOS DA HISTÓRIA DE SANTO AMARO DAS BROTAS, de Clóvis Bomfim.

 Entre os nomes religiosos, o livro cita Capela, São Domingos,  Santa Luzia (sem o Itanhy), Nossa Senhora Aparecida, e, finalmente, Nossa Senhora da Glória. Faltou apontar, se é que se fazia mesmo necessário, outros municípios, no mesmo tom, como Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão, e, também,  Santo Amaro das Brotas, São Miguel do Aleixo,  Santa Rosa de Lima.

            Destes trezes municípios, a gente corta Itaporanga, que deve ser a paraibana, porque a nossa tem o complemento relativo a padroeira – Nossa Senhora da Ajuda -,  Canindé, que deve ser o cearense, porque o nosso está ligado a São Francisco, e, enfim, Santa Luzia, porque a nossa é do Itanhy. Depois, acrescente-se que há Areia Branca no Rio Grande do Norte, Pacatuba no Ceará, Itabaiana na Paraíba, e Capela em Alagoas.  Independentemente destes cortes, foi sumamente positiva a presença sergipana na parte primeira do livro em foco, visto que, num estudo de menos de cinqüenta páginas, alguns municípios locais foram citados.

            Boca da Mata aparece como nome de um município. Entre nós, foi o nome primitivo da região onde se criou, depois, o município de Nossa Senhora da Glória.

            Nomes outros aparecem, como similar sergipano, só que aqui denominam povoados, como Guandu, município baiano, povoado itabaianense, só que sem a vogal u, como, aliás, aparece depois entre as cidades-peixes; Mucambo, entre nós, povoado de Nossa Senhora da Glória, e Mocambo, povoado de Frei Paulo; Campo Grande, Rio das Pedras e Cajueiro, três povoados itabaianenses;  Jenipapo, povoado lagartense; e, enfim, Guajeru, que, a gente, aqui, em Aracaju, pode, talvez, ter conduzido a ser Grageru, quem sabe lá, além de outros que passaram despercebidos.

            Interessante, também, a observação feita pelo autor tendo com objeto o nome Cacete Armado: “Ainda em Minas o município de Japonvar teve seu topônimo criado pela aglutinação de sílabas de Januária, São João da Ponte e Varzelândia, cidades vizinhas, por iniciativa do pároco local, incomodado com o nome antigo – Cacete Armado”, p. 33. Ora, Cacete Armado era nome de rua em Itabaiana no começo do século passado, sem que ninguém tivesse visto qualquer pornografia na denominação. Aliás, de minha parte, o nome sempre lembrou confusão, como se retratasse um local onde as brigas fossem constantes e alguém estivesse a apanhar de cacete e de pau. Assim, o cacete está armado, ou seja, alguém apanha de cacete. Mas, o que predominou, lá, em Minas, foi o gosto do vigário anônimo, a conduzir um município ao horrível nome de Japonvar, a evocar mais uma estranha homenagem ao Japão. A propósito, Cacete-Armado é uma armadilha para caçar animal de grande porte, ensina Carvalho Déda (BREFAIAS E BURUNDANGAS DO FOLCLORE SERGIPANO, 3a. edição, p. 134).

            Por último: Sergipe figura como nome batizado pelos nossos ascendentes primeiros, expressão utilizada por Homero Fonseca. Evidentemente que se refere ao elemento indígena.

            Bom o livro PERNAMBUCÂNIA – O QUE HÁ NOS NOMES DAS NOSSAS CIDADES, não só pelo seu conteúdo em si, como pela citação de alguns municípios sergipanos.

      

 

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